Fratura do Acetábulo e Anel Pélvico

Judet / Letournel e Tile

As fraturas do acetábulo e do anel pélvico são lesões associadas a traumatismos de alta energia e derivam de acidentes de viação, atropelamentos, quedas de grandes alturas ou de acidentes de trabalho. São fraturas raras, muito menos frequentes que as fraturas do fémur proximal e estão normalmente associadas a outras lesões associadas que necessitam de tratamento imediato, como tal, são na maioria das vezes vistas em contexto de emergência médica. Em doentes mais idosos, pequenas quedas da própria altura, podem condicionar lesão acetabular ou da bacia em ossos mais frágeis com osteoporose.

As causas mais frequentes são as traumáticas. As lesões derivam de acidentes de viação, atropelamentos, quedas de grandes alturas ou de acidentes de trabalho (construção, industrial ou fabril). Em doentes mais idosos quedas simples da própria altura podem levar a lesões do acetábulo e do anel pélvico.

Clinicamente há dor e impotência funcional do membro lesionado. Os doentes são na sua grande maioria transportados ao serviço de urgência de uma unidade hospitalar de ambulância. Pode haver encurtamento do membro, deformidade do membro, assimetria da bacia, lesões associadas do foro ortopédico ou lesão de órgão pélvico/ abdominal. Podem estar associadas a traumatismos crâneo-encefálicos, traumatismos torácicos e da coluna.

Os exames necessários ao correto diagnóstico da lesão são: série de radiografias para estudo da anca e bacia (raio-x em determinadas posições) bem como a tomografia computorizada.

Podem surgir isoladamente ou em conjunto. Sendo que as fraturas pélvicas são conhecidas como fraturas da bacia e ocorrem num dos 3 componentes da bacia: ílion, ísquion ou púbis e as fraturas do acetábulo são fraturas articulares que como próprio nome indica envolvem a cavidade acetabular, uma das partes da articulação da anca.

As fraturas pélvicas são uma das poucas emergências em Ortopedia uma vez que, dependendo da sua gravidade, podem levar a grandes hemorragias pélvicas com risco de vida. Na sua avaliação inicial é muito importante detetar essa gravidade uma vez que é decisiva no seu tratamento. O fator mais importante é a instabilidade da fratura (conceito que tem que ver com o mecanismo de lesão, tipo e localização da lesão) sendo que as fraturas Tipo B (instabilidade horizontal – por exemplo “open-book” – abertura anterior da sínfise púbica) e as Tipo C (instabilidade vertical) devem ser tratadas de imediato e a grande maioria sujeitas a cirurgia (osteossíntese) quando o paciente se encontra estabilizado e fora de risco de vida. Muitas vezes, as fraturas da bacia são acompanhadas de fraturas lombo-sagradas pelo que o seu tratamento deve ser multidisciplinar entre a equipa da Anca e Bacia e a equipa da Coluna.

Em relação às fraturas do acetábulo a sua classificação é bem mais complexa podendo-se dividir em fraturas elementares (das paredes, das colunas ou fundo acetabular) ou fraturas associadas (que conjugam 2 tipos das fraturas elementares). Para além do tipo de fratura existem outros fatores a ter em consideração no momento do seu tratamento. Têm indicação cirúrgica fraturas instáveis (sub-luxação ou luxação da anca) ou com grande envolvimento da parede posterior (> 25%), perda de congruência da articulação (cabeça femoral não encaixa perfeitamente no acetábulo), fraturas do teto acetabular afastadas mais de 2 mm (zona importante de carga da articulação) e a presença de fragmentos ósseos dentro da articulação.

A identificação precoce e caracterização precisa deste tipo de fraturas é decisiva para o seu tratamento e prognóstico. Uma vez que o tratamento tardio ou incorreto destas lesões trás consigo uma elevada percentagem de complicações e morbilidade.

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