Síndrome Doloroso Trocantérico (SDT)

Bursite, trocanterite, tendinopatia e rotura glútea

Os músculos abdutores da anca abrem os membros inferiores, isto é, afastam as pernas. Ainda mais importante, actuam durante a marcha, permitindo o equilíbrio da bacia e estabilidade do corpo durante a alternância entre a passada esquerda e direita.

O síndrome doloroso trocantérico corresponde a um espectro de patologia do aparelho abdutor da anca. “Espectro” não é um termo casual, pois são várias as patologias destas estruturas que podem causar dor lateral da anca e da coxa, desde a inflamação da bursa trocantérica (bursite) que não é mais do que uma “bolsa” de líquido que amortece a fricção entre a banda ílio-tibial e o osso trocantérico; tendinoses ou tendinites; ou roturas do do pequeno e médio glúteo.

Em casos raros, estas dores podem ser causadas por tumores ósseos malignos.

Vários fatores foram apontados como potenciais contribuintes para o aparecimento do SDT, embora muitas pessoas com esses fatores de risco nunca venham a desenvolvê-lo, tais como idade > 40 anos, sexo feminino, excesso de peso e fraca flexibilidade. São ainda conhecidos fatores de risco alguns aspetos anatómicos como coxa vara (ter um ângulo mais pronunciado do colo do fémur) e constrição da banda ílio-tibial, uma estrutura pouco elástica que atua como “corda” do lado externo da coxa, podendo comprimir de forma anómala o aparelho abdutor.

Certas posturas ou encurtamentos musculares, criam na anca uma posição desvantajosa de adução (abdução= abrir a anca; adução= fechar a anca), em que a pressão exercida por esta banda sobre os tendões abdutores se eleva substancialmente.

A sobrecarga pode ocorrer ainda e é particularmente frequente em corredores amadores ou profissionais, pelo trauma repetitivo do tendão.

As queixas podem ser de natureza diversa, mas habitualmente cursam com dor lateral da anca. Apesar da apresentação clínica poder variar caso a caso, esta dor tende a manifestar-se mais ao final do dia e intensifica-se com períodos prolongados de pé ou marcha prolongada. É comum manifestar-se ainda nos primeiros minutos de pé, após levantar-se da posição de sentada por períodos prolongados. Durante a noite é difícil dormir de lado, apoiado sobre a anca.

Estes sintomas são a manifestação direta do processo de tendinose (alteração degenerativa e crónica do tendão), podendo ter períodos de maior exacerbação das queixas aquando de tendinite aguda ou bursite trocantérica (inflamação da bolsa de gordura que reveste o trocânter).

Não tratadas, as micro-roturas sucessivas podem conduzir a um processo de tendinose em que a “arquitetura” do tendão fica distorcida e com alterações por vezes de difícil resolução.

O grande desafio do tratamento desta doença prende-se com o diagnóstico. Muitas vezes, este quadro vem já rotulado como “bursite” ou “trocanterite”. No entanto, deve procurar encontrar-se a estrutura lesada que está envolvida na causa destes sintomas, por forma a identificar o tratamento mais adequado.

O tratamento pode ir desde a simples mudança de hábitos posturais adversos, como por exemplo nos casos de inflamação causada por irritação mecânica, passando por fisioterapia mais especializada e tratamentos locais com infiltração de diversos tipos, como por exemplo em casos de entesopatia.

Pode ainda ser necessário recorrer a ondas de choque nas tendinites cálcias trocantéricas, patologia em que se forma uma calcificação no seio de um tendão que sofreu rotura.

Por fim, alguns casos vêm a necessitar de cirurgia, como sucede a título de exemplo, em roturas debilitantes dos tendões abdutores. É ainda desafiante o diagnóstico diferencial com outras patologias que podem cursar com sintomas semelhantes, como patologia lombar, meralgia ou patologia intra-articular da anca.

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