Sutura Tendinosa Artroscópica

A artroscopia da anca contempla classicamente o espaço articular (compartimento central e compartimento periférico). No entanto, a região da anca tem mais dois “compartimentos” passíveis de abordagem artroscópica chamados “compartimentos extra-articulares”: o compartimento trocantérico e o compartimento glúteo.

Em redor da articulação da anca existem músculos poderosos. Dois dos mais importantes são o médio glúteo e os ísquio-tibiais. O médio glúteo é o principal dos abdutores que constituem a “coifa” da anca e é fundamental na marcha e no balanceamento pélvico sendo a sua lesão a principal causa de claudicação (coxear) de Trendelenburg. Insere-se distalmente no grande trocânter (saliência óssea lateral da anca) sob a forma de um tendão largo e estreito. Os ísquio-tibiais são o grupo muscular da face posterior da coxa (semi-tendinoso, semi-membranoso e bicípete femoral). São bi-articulares pelo que são responsáveis por movimentos da anca e joelho. A sua inserção proximal é conjunta no ísquion (saliência óssea na região glútea – parte do osso da bacia). São fundamentais na extensão da anca e centragem da cabeça femoral no acetábulo (muito importantes na atividade física e desportiva).

A artroscopia veio revolucionar o tratamento das lesões tendinosas quer do médio glúteo quer dos ísquio-tibiais. Ao contrário dos ísquio-tibiais, as lesões tendinosas do médio glúteo raramente são traumáticas ou agudas. São, na maioria das vezes, degenerativas e inflamatórias com quadros de dor crónica com episódios de agudização. Ocorrem na região trocantérica, pelo que muitas vezes são chamadas genericamente de “trocanterite”. O uso abusivo deste termo levou a que durante muito tempo estas lesões fossem negligenciadas, mal diagnosticadas e consequentemente mal tratadas. A ressonância magnética é fundamental para o diagnóstico e planeamento cirúrgico destas lesões. Pois não só confirma a lesão, como avalia a qualidade do tendão e a atrofia e distrofia muscular (fatores decisivos no potencial de recuperação da lesão).

A artroscopia do espaço trocantérico permite reparar as roturas do tendão do médio glúteo de forma mini-invasiva (vide artroscopia da anca). É feita um reparação (sutura) do tendão ao osso (para voltar a fixar o tendão ao osso) com recurso a dispositivos chamados de suturas-âncoras. Tecnicamente são feitos pequenos orifícios no osso (neste caso no grande trocânter) onde são implantadas pequenas “âncoras” dotadas de fios de sutura que são passados através do tendão e “amarradas” contra o osso.

O mesmo é feito no compartimento glúteo para reparar as lesões proximais dos ísquio-tibiais (mesma técnica descrita mas neste caso são fixados ao ísquion). A rotura/ avulsão proximal dos ísquio-tibiais é uma lesão traumática aguda, frequente na prática desportiva (futebol, artes marciais e atletismo) e causadora de grande incapacidade (pela perda de força muscular), dor e por vezes algumas complicações (lesões neuropáticas por estiramento do nervo ciático) que comprometem a atividade física e performance desportiva (vide roturas tendinosas). O tratamento atempado e adequado é muitas vezes decisivo para estes pacientes/ atletas.

A era da artroscopia da anca veio revolucionar não só o tratamento destas lesões como também a sua avaliação e diagnóstico uma vez que no passado eram sub-diagnosticadas e como tal não convenientemente tratadas.

Para rupturas massivas com retração significativa, a técnica aberta é necessária para localizar o coto tendinoso, libertar aderências indesejáveis do processos cicatricial e reinserir de forma robusta os tendões ao seu leito ósseo.

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